segunda-feira, 1 de junho de 2015

Bye bye fraldas


E então, nos despedimos das fraldas. Agora temos uma menina que usa vaso sanitário e se orgulha de fazer xixi e cocô "no banheio", como ela diz. Eu sei que ela deixou de ser bebê há meses, quando completou 2 aninhos. Mas o fato dela ainda usar fraldas me dava a sensação de que eu tinha um bebê gigante em casa, especialmente quando ela vestia o pijama para dormir. Dar adeus às fraldas é dar o adeus definitivo ao bebezinho que cresceu num piscar de olhos; é dar as boas-vindas àquela criança que, cada vez mais, imita os adultos na forma de agir e de falar.

Não sei quanto tempo durou o processo de desfralde. Tento (mas nem sempre consigo) não cronometrar o que diz respeito às minhas filhas. Tenho me libertado do relógio sempre que possível. Mas o que posso dizer é que em dezembro de 2013, com 1 ano e 4 meses de idade, minha filha já tinha noção das suas necessidades fisiológicas. Gravei bem o mês porque estávamos montando a árvore de Natal na casa da minha mãe quando minha filha disse:

- Mamãe, cocô.

Logo em seguida, ela se agachou num canto e eu só senti o cheirinho da obra depois. Mas como nós faríamos uma viagem em janeiro, resolvi não desfraldar. Imagina, viajar com um bebê de 1 ano e 5 meses em período de desfralde, passar 8h num avião, 20 dias tendo que usar banheiro público em restaurante, parque, aeroporto e durante o inverno? Sem condições. Ela continuou usando fraldas. Na escola onde ela estudava, o processo de desfralde coletivo só aconteceria no ano seguinte. Entendo e concordo com a escola. É inviável fazer desfralde individual. Se a turma toda está no mesmo processo é muito mais fácil, um ajuda o outro. Além disso, a sala está preparada com produtos de limpeza e panos de chão extras para limpar as eventuais escapadas e evitar escorregões. Pensei: "acho que vai ficar confuso ela usar fralda na escola e não usar em casa". Então vou esperar. Mas com o tempo, ela foi se chateando e pedindo para não usar fralda. Passei a deixá-la só de calcinha em casa nos fins de semana. E pedia para ela me avisar quando tivesse vontade de fazer xixi. Por várias vezes, ela falava "mamãããe, xixiiiiii" com o xixi já escorrendo pelas perninhas. Eu jamais briguei ou me mostrei insatisfeita. Pelo contrário. Dizia sempre: "Muito bem! Vamos tentar avisar um pouquinho antes da próxima vez?". Eventualmente ela conseguia avisar antes. Eventualmente, não. O sofá foi batizado algumas vezes. Hehehe... Faz parte. Quando isso acontecia, meu marido tentava tirar o excesso de xixi com uma toalha e, depois, usava um secador de cabelos. Um dia, ele colocou o secador muito próximo do assento e acabou queimando o tecido. Fez um buraquinho que está lá até hoje. Minha filha sempre olha e fala: "Papai, lembra que você fez um buraco aqui no sofá?" e mete o dedinho no buraco. Eu não fico chateada. O sofá foi caro, sim. Mas eu não iria proibir minha filha de sentar no sofá da própria casa, o sofá que ela tanto gosta. Acho que soaria como uma punição, sei lá. Quem frequenta minha casa sabe que, embora eu ensine minha filha a não riscar paredes, sofá e móveis, há diversas marquinhas de canetas e pingos de tinta no sofá, que escapam durante as brincadeiras. Faz parte, é nossa história marcada ali. Vivemos em um lar, não em um cenário de novela das 8. Depois, quando ela e a irmã estiverem maiores, eu mando cobrir o sofá ou compro um novo. Móvel a gente restaura, manda limpar, compra outro. Infância a gente não consegue restaurar. Mas voltando ao assunto, a cada dia que passava ela conseguia avisar que precisava ir ao banheiro antes do xixi ou do cocô escaparem. E quando ela conseguia fazer xixi no vaso era uma verdadeira festa. Eu e meu marido cantávamos, comemorávamos e eu dizia sempre que estava muito feliz e orgulhosa. Com o tempo, ela mesma perguntava, depois do xixi: "mamãe, você tá feliz e orgulhosa?". Risos... Comprei um redutor de assento de joaninha e ela adora, fica contando quantas joaninhas têm, quantas flores... Comprei também um penico todo bonitinho que toca até musiquinha, mas ela não deu muita bola. Se tiver usado umas 3 vezes foi muito. 

Bom, mas aí ela mudou de escola no início do ano e a escola nova só faz o processo de desfralde no segundo semestre. Pensei: espero ou encaro? Seria muita novidade pra cabecinha dela? Escola nova, desfralde, irmãzinha chegando... Mas ela mesma estava ficando irritada de usar fralda. Depois que a irmã nasceu, ela dizia sempre: "eu não 'queio' 'falda', mamãe, eu não sou bebê". Resolvi então conversar na escola e explicar que ela já ficava sem fraldas nos fins de semana e à noite após chegar da escola. Tive o apoio das professoras, que foram muito atenciosas e receberam bem meu pedido. No primeiro dia dela sem fralda na escola, a mamãe exagerada aqui mandou 6 calcinhas, 2 shorts do uniforme da manhã e 3 shorts do turno da tarde. Voltaram somente 2 calcinhas na sacola de roupa usada: a calcinha que ela usou pra ir (que ela trocou no banho da manhã) e a que ela trocou no banho da tarde. 

O passo seguinte foi o desfralde fora de casa. Primeiro, resolvemos sair somente pela vizinhança com ela. Um certo dia, descemos com ela para andar pelo parque onde moramos e perguntei se ela queria fazer xixi antes de descer. Ela disse que não. Expliquei que não tinha banheiro na rua. Ela mudou de ideia, a levei ao banheiro e ela fez xixi certinho no vaso. No fim de semana seguinte, fomos à casa da minha sogra. Ela mora há uns 40 minutos da minha casa. Novamente, levei minha filha ao banheiro antes de sair e ela foi tranqüila no carro (meu marido que ficou tenso. Risos...). E foi sempre assim: avisamos que não tem banheiro no carro e ela precisa fazer xixi antes de sair. Ela faz e nós saímos tranqüilos. Na mochila dela, levo protetor de assento e um redutor de assento portátil que comprei fora do país. É maravilhoso, além de prático e higiênico. A marca é Ginsey. Ele é pequeno e cabe em qualquer bolsa. Vejam na foto que coloco minha mão como referência de tamanho. Ele tem três dobradiças e basta girá-las que o assento está montado. Há também borrachas que fixam o assento no vaso, evitando deslizamentos. O desfralde na rua tem essa complicação a mais: nem sempre se acha um banheiro limpinho. Então, quando ela precisa ir ao banheiro, eu visto o tampo do vaso com o protetor de assento (que se compra em qualquer farmácia) e, por cima, ponho o redutor portátil. Ainda levo lencinho umedecido na bolsa, tanto porque nem sempre há papel higiênico como também porque alguns são ásperos e de baixa qualidade. Ela estava oficialmente desfraldada durante o dia na primeira semana de fevereiro, a semana que a irmã nasceu. 




Com o nascimento da minha caçula, resolvemos não mexer no desfralde noturno. Quem tem recém nascido em casa sabe como as madrugadas são animadas. Tudo que não precisávamos naquele momento era uma menininha acordando de madrugada molhada. Três semanas após o desfralde diurno, minha filha mais velha contraiu bronquite. Ou seja, mais uma vez, adiamos o desfralde noturno. Não faço mudanças de rotina em períodos de doença, de forma alguma. Esperamos um tempo e comecei a perceber que a fralda dela já estava amanhecendo seca há um tempo. Dava até pena de jogar fora aquela fralda sequinha. Momento mamãe✋🏼 de 🐮. Risos... O desfralde noturno aconteceu quando minha filha decidiu que era a hora. Ela chegou um dia e disse:
- Mamãe, 'falda' é coisa de bebê.  Então eu sou 'quiança' de manhã e bebê de noite, é?
Ela me deu o sinal claro que eu precisava. E então, naquela noite mesmo, retirei a fralda noturna da minha ex-bebê. 

Não existe mágica para o sucesso do desfralde. Algumas crianças levam mais tempo, outras menos. Algumas desfraldam o xixi mas não conseguem desfraldar o cocô ao mesmo tempo. Outras desfraldam de uma vez, diurno e noturno. Cada família deve fazer o ajuste que encaixa melhor com as necessidades e o tempo da criança. O que eu fiz aqui que deu certo foi:
1. Observar que minha filha já tinha noção do que era xixi e cocô. 
2. Perceber que ela ficava incomodada com o cocô na fralda. 
3. Pedir para ela avisar antes de fazer xixi e cocô. 
4. Comprar um redutor de assento atraente para ela. 
5. O penico não deu certo aqui, mas algumas crianças gostam. 
6. Comemorar bastante cada xixi e cocô feitos no vaso. 
7. Jamais se mostrar chateada ou insatisfeita com xixi e cocô que escapam. 
8. Levar ao banheiro sempre antes de sair e de dormir. 
9. Ter uma opção de proteção de vaso sanitário e, se possível, assento redutor portátil, ao sair. 
10. Ter muita paciência, estar preparada para limpar muito xixi e cocô, não surtar com sofá e cama molhados e, acima de tudo, respeitar o tempo e o ritmo do seu filho. 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Maratona de uma mãe noiada

ma·ra·to·na |ô| 
(Maratona, .topônimo [aldeira grega a cerca de 42 km de Atenas])

substantivo feminino

1. [Esporte]  Corrida pedestre de grande fundo (42,195 km em estrada).

2. Conjunto de negociações longas e difíceis, debates laboriosos.

3. Atividade muito prolongada.


"maratona", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/maratona[consultado em 29-04-2015]

Não, amigos. Maratona de verdade é quando você adoece, sua filha mais velha adoece e você precisa evitar que sua filha mais nova, ainda recém-nascida, adoeça também. Isso, sim, é uma verdadeira maratona. É preciso se virar nos 30 bonito. Talvez eu seja um pouco noiada. Talvez, não. Certeza. Aliás, acho que toda mãe tem seu calcanhar de Aquiles, né? Que atire a primeira mamadeira aquela mãe totalmente desencanada que nunca teve uma preocupação sequer com o filho. Duvido que exista. Nóia, neura, preocupação, frescura, excesso de zelo... O nome não importa. O que importa mesmo é aprender a conviver com aquilo que te aflige. Aqui, o que mais me aflige são as doenças infantis. E olha que me considero uma mãe abençoada porque, para os meus parâmetros, minha filha não adoece muito (falo no singular porque, graças a Deus, minha caçula ainda não adoeceu). Às vezes me acho até injusta. Vejo tantos casos de mães que carregam cruzes pesadíssimas, com filhos sofrendo com doenças graves, e eu aqui me lamentando de uma tossezinha ou uma febre passageira. Mas é como eu disse: cada qual com sua neura. E olhem que hoje estou 80% mais tranquila do que há um ano. Até bem pouco tempo, era comum eu perder 1 ou 2 kg quando minha filha adoecia. Simplesmente porque eu perdia completamente o apetite. Não adianta, não sinto fome, nada desce e só volto a comer quando ela está bem. Outro dia, eu estava jantando e meu marido me pediu o termômetro. Pronto, meu estômago já embrulhou. Mesmo ele tendo medido a temperatura e verificado que nossa filha não estava com febre, não consegui voltar a comer. Joguei o jantar no lixo e fui deitar. Hoje isso não acontece. Não estou curada da minha neurose, não, mas me considero quase normal. Risos... Acho que minha segunda filha reprogramou meu cérebro. Bem que me disseram que segundo filho liberta. E liberta mesmo. Bom, mas esse é um assunto que dá pano pra mang... Ops, que dá um novo post. Vamos voltar ao foco da conversa: a maratona.

 

Há cerca de 7 semanas, minha filha mais velha adoeceu. E eu, como boa mãe neurótica que sou, quis evitar ao máximo que minha filha mais nova também adoecesse. Se hoje ela ainda é recém nascida, imaginem 6 ou 7 semanas atrás. E embora minha filha mais velha tivesse 2 anos e meio nessa época, ela ainda dependia (aliás, ainda depende) muito de mim. Imagina então doentinha, né? Pra falar a verdade, chá de mamãe faz bem para filhos de 2 a 200 anos de idade, não é mesmo? Então, houve momentos em que papai não servia. Era só mamãe na causa. E lá ia a mamãe aqui dar colo, dengo, abraço, beijo, remédio... Até o momento em que a filha mais nova chorava com fome. Outro momento que papai também não serve, né? Então começava a maratona. Mamãe corre pro banheiro, tira toda a roupa (sutiã, principalmente, porque vai que a tosse da filha mais velha respingou no sutiã, perto de onde a filha mais nova vai mamar...), se lava, se enxuga, veste uma roupa limpa, passa álcool gel... E pega a mais nova pra amamentar. Enquanto isso, papai segura as pontas com a filha mais velha (nem sempre ela aceitava e mamãe segurava a menor com um braço e a maior, de costas pra menor (vai que ela tosse, né?), com o outro braço. A mais nova mamava, arrotava, ficava uns minutinhos com a mamãe (afinal, ela é recém nascida e tem direito também à mamãe dela). Depois o papai assumia e mamãe voltava pra filha mais velha. Mais carinho, mais denguinho, mais febre monitorada, mais corrida pro banheiro para limpar os vômitos... E a filha mais nova chama mais uma vez. Mamãe corre de novo pro banheiro, se lava, se troca, passa álcool gel... E esse loop infinito durou uns 6 ou 7 dias. No final da semana eu já estava quase desfilando de calcinha e sutiã pela casa. Risos... Ok, to exagerando. Mas eu trocava tanto de roupa (umas 8 vezes por dia) que o cesto já estava cheio. O importante mesmo é que a mais nova não pegou a bronquite da mais velha. Ufa, escapamos! Se bronquite já maltrata uma criança de 2 anos e meio, imagina o estrago que faz num bebezinho de um mês de vida. Não gosto nem de pensar.

 

Aí, recentemente (mais precisamente, essa semana), a corrida com obstáculos recomeça. Com uma novidade: mamãe também ficou doente. Na verdade, minha filha mais velha caiu primeiro, com uma febre não muito alta. Algumas horas depois, novo episódio de febre. Nada muito preocupante, nada de perder o apetite nem ficar indisposta. Mas, claro, eu fiquei apreensiva. E pedi a Deus que transferisse para mim o que ela tinha. Eu sempre peço isso: que Deus lance para mim o que tiver que atingir minhas filhas. E pode arrochar o nó, aumentar a intensidade do problema em várias ordens de grandeza. O importante é livrá-las de qualquer mal. Não sei se Deus ouviu minhas preces. Só sei que no outro dia, minha filha mais velha amanheceu bem melhor e eu, doente. Claro que a razão explica isso facilmente: eu peguei a virose dela. Simples assim. Mas enfim... Graças a Deus, foi uma virose leve que durou pouco tempo. Mas a maratona foi bem parecida. Era só a filha mais nova chamar que lá ia eu correndo pro banheiro, me lavar, secar, trocar de roupa, colocar máscara no rosto e passar álcool gel nas mãos, braços e antebraços. Antes de deitar, eu já deixava uma camisola limpa, máscara e álcool gel já separadinhos. Na minha cabeça de mãe noiada, provavelmente tinha algum vírus na minha roupa de dormir (eu só tirava a máscara para dormir e tomar banho. Uma vez, há quase 2 anos, inventei de dormir de máscara e acordei com muita dor de cabeça, talvez por não ter respirado direito. Desde então não faço mais isso). Aí eu trocava tudo e ia amamentar. E claro que esse processo era feito em 20-30 segundos, especialmente de madrugada. Eu não ia correr o risco de deixar a pequena chorando muito tempo a ponto de acordar a irmã, né? Olha, se tivesse essa modalidade nas Olimpíadas do Rio em 2016 eu seria forte candidata à medalha de ouro, viu? Porque o treinamento aqui foi intensivão. Risos...

 

Tenho certeza que muita gente vai achar exagero tudo isso que descrevi. Ok, cada um tem o direito de pensar o que quiser. Da mesma forma, eu tenho o direito de agir como acho que é o melhor para mim e para minha família. Sei bem que não é possível nem saudável criar um filho dentro de uma redoma. E quem conhece minha filha mais velha sabe que ela não vive numa bolha. Ela rola no chão, coloca as mãos no prato para pegar um pedaço maior de carne, pisa na areia, coloca a mão na água quente que sai da torneira da casa da avó (e minha sogra sempre tem um mini enfarte e jura de pé junto que ‘essa menina vai adoecer pegando nessa água quente’), bebe água da chuva com asa de mosquito empoçada na varanda (eca, eca e mil vezes eca!)... Sei que ter contato com tudo isso, de maneira prudente, faz bem. Mas eu realmente fico muito triste e preocupada quando vejo minha filha mais velha abatida. E tudo que eu puder fazer para evitar que elas adoeçam, eu farei. Minha filha mais velha tem, atualmente, 2 anos e 8 meses e jamais pegou nada de mim. Já eu, eventualmente, pego resfriado ou virose dela. E assim vamos levando, de máscara em máscara, de álcool gel em álcool gel. Quem sabe lá pelo décimo filho eu me curo de vez e passe a limpar o catarro de um com a fralda do outro, né?


Nosso baile de máscaras. 

terça-feira, 31 de março de 2015

Normal ou cesárea?


Oi, gente. Comecei a escrever esse texto há um tempo, pelo celular, entre uma mamada e outra. Mas aí não salvei (aquela que ainda não aprendeu a mexer direito no aplicativo do Blogger) e perdi tudo. Fiquei chateada e demorei a rescrever. Risos... Fazia tempo que eu queria falar sobre minha sensação durante e após os partos das minhas meninas. Antes de começar nosso papo, quero ressaltar que este texto não tem pretensão nenhuma de discutir que tipo de parto é o melhor. Não sou capacitada para isso. Na verdade, eu acredito que o melhor parto é aquele que deixa mamãe e bebê seguros. E sou a favor do livre arbítrio consciente. A melhor aliada que uma parturiente pode ter é informação. Se eu pudesse dar um conselho para as mamães gestantes, eu diria: se informe. Leia, assista, pesquise. Não acredite que você não pode só porque alguém disse isso. Não se deixe levar pelo julgamento dos outros. Somente com conhecimento de causa podemos tomar a melhor decisão. 

Minha primeira filha nasceu em agosto de 2012 de parto cesárea. 6 meses antes, descobri uma hérnia de disco na coluna que me maltratou demais. Maltratar é um eufemismo. Eu sofri feito um galeto no espeto. Senti dores terríveis na coluna, passei mais de dois meses acamada sem conseguir sequer sentar. Por causa da gravidez, eu não podia tomar nenhum medicamento para aliviar os sintomas. Aliás, eu não pude fazer nem mesmo exame de imagem para saber, de fato, aonde estava a hérnia e em que estágio de gravidade a discopatia se encontrava. Mas, graças a Deus, à fisioterapia e à acupuntura, melhorei muito. A data do parto foi se aproximando e, embora eu quisesse parto normal, essa idéia parecia cada vez mais distante. Tanto a obstetra quanto o traumatologista e os médicos da família eram unânimes em dizer que seria um risco. Não se sabia nada sobre a hérnia e o esforço do parto normal poderia piorar bastante a situação. Conseguiria fazer força na hora do expulsivo? Só Deus sabe. Em todo caso, não quis agendar meu parto. Eu preferi esperar minha filha dar seus sinais de que queria chegar no mundo. Ao menos isso eu fazia questão: respeitar a hora dela. E assim foi. Entrei em trabalho de parto na manhã de sexta-feira. A evolução foi rápida considerando que era meu primeiro filho. No exame de toque, pouco menos de 4h após o início das contrações, eu já estava com quase 5cm de dilatação. Ainda chegamos a cogitar um parto normal, mas abandonamos a idéia quando a obstetra percebeu que tive dificuldade em dobrar a perna. Aceitei a cesárea e rumamos para a maternidade. As contrações ficaram muito intensas, freqüentes e cada vez mais demoradas. Eu sabia que estava chegando a hora de conhecer, enfim, minha menina. Fui levada para a sala de parto e só enquanto eu levantava o tronco para sentar e tomar a anestesia, tive três contrações. Lembro de sentir muito frio após a anestesia. Pedi para me cobrirem um pouco e me senti melhor. Ao contrário do que já li, não tive as mãos presas na maca. Meu marido e meu irmão estavam presentes na sala de parto. Eles ficaram o tempo todo conversando, meu irmão explicando cada tecido que a obstetra cortava. Eu só conseguia pensar que estava cada vez mais perto daquele momento tão sonhado. De repente, mais rápido do que imaginei, ouço o som mais lindo do mundo: o choro da minha filha. Não dá para descrever com palavras o que senti naquele momento. É algo tão intenso que transcende. Difícil explicar. Bastou eu ver o rostinho dela que as lágrimas começaram a rolar dos meus olhos. Lágrimas da mais pura e verdadeira felicidade. Chorei de alegria. Nunca na minha vida (e olhe que tenho uma vida feliz) eu havia experimentado nada nem parecido com aquela alegria que me invadia. Imediatamente, me apaixonei por aquela menininha que surgiu na minha frente. Se eu pudesse resumir em uma palavra o que senti no parto da minha primeira filha, eu diria FELICIDADE


Já no parto da minha caçula, as coisas aconteceram de forma bem diferente. Eu ainda tinha a hérnia e por muito tempo, a idéia de um parto normal não foi bem recebida nem pela obstetra nem pelo traumatologista. Em uma das consultas de pré-natal do terceiro trimestre, manifestei novamente meu desejo de um parto normal. Pela primeira vez, a obstetra disse que poderíamos ver a evolução do TP e, só então, definir que tipo de parto faríamos. O resto da história vocês já sabem [ http://selomamaedequalidade.blogspot.com/2015/02/o-relato-do-nosso-parto.html ]. Meu segundo parto não só foi normal como foi natural. Isso quer dizer que não tive nenhum tipo de sedação ou analgesia. No bom e velho português, foi no seco. Foi bem diferente do meu primeiro parto. Lá, a sala de parto estava em relativo silêncio e, após a anestesia, eu estava calma, tranqüila e sem a dor das contrações. Já no segundo parto, eu gritava de dor. Senti a dor extrema. Senti meu quadril alargar, senti meu canal vaginal dilatar para minha filha passar. Não sei se é a maior dor do mundo. Mas certamente, foi a maior dor que senti. E eu só queria que aquilo tudo acabasse. Fiz muita força. Muita. Tanta, que minha filha nasceu em um único empurrão (e eu sofri uma laceração profunda). Quando ela nasceu, mesmo antes de ouvir seu choro, eu já sabia que ela tinha nascido. Afinal, eu tinha sentido ela escorregar de dentro de mim. E a primeira sensação que me invadiu foi o alívio. Um profundo alívio. A dor vai embora como num passe de mágica. É até difícil acreditar que aquela dor tão intensa pode acabar tão rapidamente sem deixar vestígios. Achei que eu ia continuar a sentir dor, menos intensa. Mas nada. Nem dor, nem ardor, nem latejar. Nada. Se eu pudesse resumir em uma palavra o que senti no parto da minha segunda filha, eu diria ALÍVIO. Somente quando a reencontrei para amamentá-la pela segunda vez (ela mamou no parto) é que as lágrimas rolaram. Não sei dizer o porquê, mas como vocês podem ver pela foto, eu só conseguia sorrir após o parto. Choro de emoção, somente no nosso segundo encontro. 

Conheci os dois extremos: um parto cesárea, onde, embora eu tenha sentido muitas contrações, minha filha "foi nascida" pelas mãos da obstetra. E um parto natural, onde ninguém interveio no nosso momento; eu pari e minha filha nasceu pelas contrações do meu útero, pelas mãos da natureza. Se eu pudesse resumir em duas palavras meu primeiro parto, eu diria FELICIDADE e AMOR. Se eu pudesse resumir em duas palavras meu segundo parto, eu diria ALÍVIO e AMOR

Hoje, posso afirmar o que eu já desconfiava. Filho não nasce de um corte na barriga, tampouco de uma vagina. Filho nasce do coração. É com o coração que a gente dá à luz. 

quarta-feira, 4 de março de 2015

Sobre os tamanhos de cada marca de fralda


Olá, pessoal. Hoje o post será curtinho para falar de algo que percebi ainda com minha primeira filha mas esqueci de comentar aqui. As mães e pais de primeira viagem talvez não percebam que uma fralda tamanho P da marca A pode ser maior ou menor que a fralda tamanho P da marca B. Parece que não há um padrão. Assim como acontece com a indústria da moda, cada fabricante parece ter a sua fôrma.  

Boa parte das gestantes fazem chá de fralda e, assim, recebem pacotes de fraldas de diferentes marcas. Na hora que o bebê nasce, a gente vai retirando os pacotes tamanho P do armário e usando. Mas vale à pena ficar atenta à indicação do fabricante. Aqui estamos usando Pampers e Turma da Mônica. Como vocês podem ver pelas imagens, a fralda tamanho P da Turma da Mônica é visivelmente menor que a fralda Pampers tamanho P.


O fabricante, inclusive, indica que a fralda P Turma da Mônica serve para bebês com até 6kg. 



Já a Pampers diverge. Peguei dois pacotes, ambos tamanho P. Um deles diz que a fralda veste bebês até 7,5kg. Já o outro pacote da mesma marca indica o uso até 8kg. Ou seja, não há um padrão. Melhor mesmo é ficar atenta para não começar usando o tamanho P "grande" e perder as fraldas P "pequenas". 



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Banho de ofurô: relax total

O assunto de hoje é banho. Embora já tenhamos falado muito sobre esse assunto por aqui, tem novidade (pelo menos para mim) na área: banho de ofurô. Minha primeira filha usou somente banheira convencional. Lembro que achei o ofurô caro demais quando fui comprar seu enxoval. "Mais de R$ 100,00 por um balde de plástico? Não, usaremos banheira mesmo". Com minha caçula eu também não tinha grandes pretensões de usar ofurô, não. Aliás, não sei com vocês, mas eu relaxei muito mais com a segunda filha em termos de planejamento. Deixei as coisas fluírem, aproveitei praticamente tudo que ainda tinha da minha primeira filha. A banheira anterior eu já havia doado, mas uma amiga queridíssima me emprestou a banheira da filha dela. Uma banheira ótima, grande, confortável, bem equipada. Aceitei de bom grado. Aliás, adoro receber herança dos bebês dos outros. Risos... Mas aí, no dia que saí às compras de algumas coisinhas do enxoval que estavam faltando, me deparei com o ofurô por um preço maravilhoso. Não tenho certeza, mas acho que não paguei nem R$ 40,00 por ele. Decidi trazê-lo pra casa. Foi a melhor coisa que fiz.

Ofurô Plasútil.
Minha filha tomou seu primeiro banho molhado somente após o umbigo ter caído. Foi orientação do pediatra e eu segui direitinho. Antes disso, só tomou o chamado banho seco (algodão molhado em água morna). Segundo o pediatra, quando mais se molha o coto umbilical, mas ele pode demorar a cair ou ter algum tipo de infecção por não ter sido higienizado ou secado corretamente. Na dúvida, segui a recomendação médica. O primeiro banho molhado foi dado na banheira. Mas, como era de se esperar, minha filha não aprovou muito, não. Se sentiu perdida mesmo eu estando com ela no colo. Eu me molhei bastante justamente porque mantive ela colada em mim para que ela se sentisse mais acolhida e sem frio. No dia seguinte, resolvi testar o ofurô. A reação dela mudou da água pro vinho. Assim que ela foi submersa na água morninha, parou de chorar e relaxou. Relaxou tanto que soltou logo 3 puns seguidos. Risos... Foi maravilhoso. Com ela relaxada, pude banhá-la sem pressa. Passei sabonete na sua cabecinha, no corpinho... Não foi só ela que relaxou, não. Aliás, qual mãe não relaxa ao ver seu bebê tranquilo? Minha filha só chorou quando foi retirada do ofurô. Queria passar o dia na vida boa. Risos...

Assim como a banheira, o uso do ofurô requer alguns cuidados. O primeiro deles (e bastante óbvio, por sinal) é JAMAIS NUNCA DE FORMA ALGUMA deixar o bebê no ofurô sem supervisão e sem segurá-lo. As tragédias acontecem em questão de segundos. Então, atenção nunca é demais.
Base antiderrapante.

O ofurô que comprei tem capacidade para cerca de 17L de água. É bastante água. A recomendação é colocar um volume de água que permita que o bebê fique com os ombros submersos. Assim, ele sentirá menos frio, ficará mais confortável e poderá curtir melhor esse banho tão relaxante. 

Antes de cada uso, eu esterilizo o ofurô jogando água fervente dentro dele. Portanto, tive o cuidado de procurar um produto livre de bisfenol A (BPA free), livre de toxidade.
 
BPA free.

Outro fator que observei foi que as bordas do ofurô são arredondadas, evitando que o bebê se machuque. A base é antiderrapante, evitando deslizamentos. 


Não tem muito segredo para usar o ofurô. Basta colocar água numa temperatura agradável (em torno de 37º C), colocar o bebê dentro e curtir o relax. Algumas pessoas seguram o bebê pelo pescoço. Eu prefiro passar a mão por baixo das axilas da minha filha. Me sinto mais segura assim. Mas não tem receita nem manual, cada mãe-bebê devem encontrar a forma como se sentem mais confortáveis. 
Diferentes formas de se segurar o bebê no ofurô.

O modelo que comprei tem um grande adesivo na parte de trás com instruções importantes.







Outra dica importante: não esqueça de apoiar o ofurô numa superfície firme. Embora o bebê esteja sendo segurado por você, não dá para arriscar, né? Imagina o balde virando, a água toda derramando e, o pior, o risco de machucar o bebê? Eu acabei colocando o ofurô no chão mesmo. Me agacho e dou banho nela assim. 

Pra finalizar, uma foto da minha pequenininha curtindo seu banho super relaxante.



"Mamãe, esse tal de ofurô é legal mesmo. Relaxei tanto que fiquei zarolha". Risos...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Descobrindo o sling

O título da postagem já fala por si só: estamos descobrindo o sling. Quem acha que segunda gravidez é igual à primeira, que não há mais novidades e que mãe de segunda viagem sabe tudo está redondamente, quadradamente, triangularmente e todas as formas geométricas, enganado. Por aqui, todo dia descubro algo novo com minha segunda filha. A lição de hoje foi aprender a slingar. Com minha filha mais velha, usei o canguru. Mas além dele não ser recomendado para bebês recém nascidos que ainda não sustentam a cabeça, o sling me parece mais confortável e acolhedor. Estou longe de ser uma profunda conhecedora do assunto, mas o pouco que sei e li me deu confiança para testar esse acessório. Aproveitei que hoje tinha coisa para fazer em casa e minha filha não estava muito afim de ficar no berço e resolvemos slingar. Usei o wrap sling, ou sling de amarração. O primeiro passo é aprender a amarrá-lo com segurança para o bebê ficar bem aconchegado. Uma amiga fez a gentileza de me emprestar um sling e me ensinar a utilizá-lo. Na internet é fácil encontrar instruções de como manusear os diferentes tipos de sling, seja o de amarração ou o de argola. Tentei reproduzir as instruções que minha amiga me passou, mas amarrei o sling mais frouxo do que deveria. Fiquei bem atenta para que minha filha ficasse confortável mesmo com o sling largo. Usamos por cerca de 1h e em casa. Como eu não ia caminhar muito, não vi problema do sling ficar frouxo. Mas, lembro que é importante que o sling fique bem ajustado para que o bebê fique seguro e não corra risco de se machucar. A foto abaixo mostra que minha filha aprovou o sling. Enquanto mamãe cozinhava e costurava, bebê curtiu uma soneca gostosa coladinha em mim. Acho que essa é a maior vantagem do sling: ter o bebê colado em você, sentindo sua temperatura e ouvindo seu coração ao mesmo tempo que você tem as mãos livres para fazer mil e uma coisas. As mães, especialmente aquelas sem empregada nem babá como eu, agradecem. 

  

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O relato do NOSSO parto

Voltei! Depois de meses sumida, aqui estou. Peço perdão pela ausência. Não é fácil conciliar tantas coisas: filha, gravidez, marido, casa, trabalho, roupa, louça, comida e esse leriado todo que 90% das mulheres conhecem bem. Mas agora estou aqui, com menos tempo que antes e muito, muito, muuuuito mais feliz e completa. O motivo? Nasceu! Minha menina, minha benção, minha caçulinha. Nasceu da minha coragem, do meu medo, dos meus berros, das mordidas no braço do meu marido. Sem anestesia, com cesárea prévia, com hérnia de disco. Nasceu! E vim aqui compartilhar o relato do nosso parto.

Há 16 dias, eu estava revivendo a maior alegria da minha vida. Embora tenha sido meu segundo parto, foi um momento absolutamente ímpar. Não há como comparar os dois partos, não há como medir a emoção que senti naquele 17 de agosto de 2012 nem agora, dia 03 de fevereiro de 2015. Aliás, não conheço escala para medir emoção. Emoção a gente sente. E só.


Acordei bem e disposta no dia 03 de fevereiro. Assim como ocorreu na véspera do meu primeiro parto, fui deitar sem jantar. Não tinha fome. Na manha do dia 03, rotina normal: acordar filha mais velha, preparar seu café da manha enquanto ela grita do quarto "mamanhê, meu leite!", pôr o uniforme da escola, escovar dentes e todo aquele roteiro que as mães conhecem bem. Na hora de sair, minha filha pediu colo. Eu dei, mesmo já estando com 38 semanas e 3 dias de gestação. Quando a peguei no colo, imaginei que teria alguma consequência. Afinal, qualquer hora era hora. Mesmo assim, dei o colo que ela pediu. Quem é mãe sabe o quanto é difícil negar colo para um filho. E também nunca saberei se este fato teve alguma influência no parto. Enfim... 


Ela foi pra escola com meu marido e eu comecei a sentir um leve incômodo nas costas. Uma luzinha acendeu na minha cabeça. Decidi não tomar café da manhã. Preferi me deitar e observar. As contrações vinham e iam ainda meio descoordenadas. Comecei a marcar o tempo de duração das contrações e o intervalo entre elas. Percebi que, de fato, havia chegado a hora. Fui então recolocar as roupinhas da minha filha na bolsa, que eu havia tirado na véspera para ozonizar na máquina de lavar roupas. A cada roupinha que eu colocava na bolsa, as contrações vinham mais fortes. Liguei para meu marido. Ele estava naquele momento na fila de espera para autorizar minha internação para o parto. Falei, calmamente, que ele tentasse voltar para casa logo em seguida porque eu tinha entrado em trabalho de parto. Falei também com meu irmão, médico. Ele pediu para eu marcar o tempo de cada contração. Elas duravam, em média, 55 segundos e o intervalo entre elas era de cerca de 3 minutos. Ele disse que aparentemente pareciam mesmo contrações verdadeiras. Tomei um bom banho e foi impossível conter a emoção debaixo do chuveiro. Dentro de poucas horas, minha filha estaria comigo. Agradeci a Deus, pensei na minha filha mais velha na escola e as lágrimas rolaram novamente. Liguei para minha obstetra. Depois de algumas tentativas frustradas, enfim consegui contato. Ela me orientou a ir para a maternidade. 

No caminho, as contrações aumentaram consideravelmente. Perdi as contas de quantas vezes meu útero se contraiu no trajeto. Chegando à maternidade, percebi o quanto os hospitais e profissionais estão despreparados para lidar com esse processo tão natural e corriqueiro que é um parto. A impressão que tive foi que naquela maternidade só chegam mulheres com partos agendados. O recepcionista tremia feito vara verde e não conseguia sequer manusear o mouse para inserir meus dados no sistema. A cada contração que eu sentia, ele tremia na cadeira. Seria cômico se não fosse alarmante. Minutos depois uma funcionária apareceu informando que não havia leitos no hospital. A funcionária foi até atenciosa, contactou minha obstetra e, entre uma contração e outra, entendi que ficaríamos lá e o problema do leito seria resolvido. 

Subi numa cadeira de rodas para uma sala de pré operatório. Meu marido, irmão e cunhada (também médica) subiram comigo. Minha mãe e irmã ficaram aguardando na recepção do hospital. Logo que entrei na sala de pré operatório, fui orientada a vestir uma bata. Enquanto trocava de roupa, perdi o tampão. Ainda aguardei sentada na cadeira de rodas por algum tempo, o que não foi muito confortável. Em seguida, me pediram para deitar em uma maca. Não sei dizer quanto tempo fiquei deitada ali. Sei que minha cunhada e uma enfermeira de olhos cor de mel foram dois anjos. Massagearam minhas costas, emprestaram as mãos para eu apertar. Não sei como não quebrei a mão delicada e magra da minha cunhada. As contrações vinham cada vez mais fortes, em intervalos menores e durando mais tempo. Ouvi minha cunhada e meu irmão pedindo um médico para avaliar minha dilatação. Meu marido tentava contactar minha obstetra para colocá-la a par do processo. Algum tempo depois, uma obstetra me faz um exame de toque. Ela informa para as enfermeiras ao redor que estou com 8 cm de dilatação, mas no meio daquela dor lancinante eu entendi 2 cm. Ainda deu tempo de eu pensar "2 cm e essa dor infernal?" Em questão de segundos, mil pensamentos passam pela sua cabeça. Na hora, lembro de comparar com o trabalho de parto da minha primeira gestação: com 5 cm de dilatação daquela vez, a dor era perfeitamente suportável, então porque agora com 2 cm dói tanto?" Foi quando alguém perguntou de novo "quantos centímetros, doutora?" Ela repetiu: 8 cm com colo bem fino. Então pensei: "caramba, tô em pleno trabalho de parto e dilatei 8 cm em 2h!" Até então, eu tinha indicação médica de parto cesariana por causa da hérnia de disco na lombar, que resolveu dar o ar da graça logo no primeiro trimestre da minha primeira gestação. Apesar da hérnia, eu sempre quis um parto normal. Aliás, antes de engravidar eu já queria viver a experiência de dar à luz, de parir um filho eu mesma, de ser protagonista da minha história. Mas diante da provável complicação, acabei desistindo. Imagina aí: um bebê recém-nascido, uma filha de 2 anos e meio e uma hérnia de disco estourada? Essa conta não fecha. Só quem já sofreu com hérnia sabe o martírio que é. Fiquei meses de cama na minha primeira gestação, sem conseguir sentar nem andar. Fui obrigada a tirar licença do trabalho por 6 meses. Imagina aquele tormento de novo, mas agora com duas crianças dependentes de mim. Achei injusto também com meu marido, que teria que segurar as pontas em casa com uma mulher acamada e duas filhas pequenas. Achei que não valeria à pena correr o risco e me conformei. Talvez Deus não tivesse reservado para mim essa missão. Acredito que tudo acontece como tem que acontecer. E foi assim que pensei: se não é para ser, que não seja. Não ficarei de luto por um parto que não evoluiu como eu desejava. Eu estava bem tranqüila com relação a isso. 

Voltando às contrações, elas vinham e iam bem mais intensas e agora, além da dor na lombar, eu sentia também dor no abdômen e um movimento lá nos países baixos. Minha cunhada explicou que era a dilatação. Pedi algum tipo de anestesia ou ao menos algum alívio para a dor. Mas os profissionais repetiram diversas vezes que somente minha obstetra poderia conduzir o procedimento e ela ainda não havia chegado. Insisti que não daria tempo esperar. Percebi que eles concordavam comigo, realmente não daria tempo esperar, mas cumpriram o protocolo do hospital e não me aplicaram nenhum medicamento. Algum tempo depois, minha cunhada pediu para a obstetra do hospital me reavaliar. Ouvi quando a enfermeira disse que ela havia entrado numa cesariana. Falei quase gritando que minha filha ia nascer ali. A enfermeira me orientou a não fazer força. Mas era quase involuntário. Meu corpo fazia força quase sem eu querer e eu sentia que dentro de minutos, Alice nasceria. Não sei precisar quanto tempo passou, mas fui levada na maca onde eu estava para outra sala que me pareceu ser um centro cirúrgico. Foi difícil passar da maca para a mesa de cirurgia, dura e muito estreita. Assim que passei, virei de lado. A enfermeira me pediu para deitar com a barriga para cima, mas me sentia mais confortável deitada sobre meu lado esquerdo. Estava ali naquela sala, agora sem meu marido, irmão e cunhada. Mas vi os olhos cor de mel daquela enfermeira entre os vários rostos naquela sala e a reconheci. Pedi para ela ficar ao meu lado e apertei forte a mão dela a cada contração. Depois me dei conta de que, além de apertar a mão dela, eu mordi meu próprio braço esquerdo. Até hoje os hematomas não sumiram. Perguntei pelo meu marido e me informaram que ele estava logo atrás da porta. Pedi para ele entrar. Nesse intervalo, um anestesista apareceu ao meu lado e se apresentou. Pedi uma anestesia. Ele disse a frase que me impactou: "não há mais tempo para anestesia. Você vai ter seu bebê de parto normal". Minha ficha caiu ali. Eu queria anestesia, sim, mas queria mais ainda que minha filha nascesse de parto normal. Não sei explicar o que senti naquele momento. Sei que um torpor tomou conta do meu corpo. Eu tive medo. Medo de não conseguir, medo de ser fraca... Mas ao mesmo tempo, eu me senti uma leoa. Senti como se eu fosse a mais corajosa de todas as criaturas. É tudo tão intenso num parto natural que acho que você consegue viver todas as emoções do mundo em questão de segundos. Lembro de ter informado ao anestesista sobre a hérnia. Ele coçou a cabeça e disse: "uma hérnia? Sério?" E saiu com um ar tenso. Eu, na verdade, esqueci a bendita hérnia. Lembrava dela, mas esqueci que ela poderia sair com o esforço do parto. As dores eram tão intensas que eu só queria que minha filha nascesse, nem que depois eu ficasse aleijada. 

Perguntei novamente pelo meu marido e ouvi alguém responder que ele estava logo ali do lado de fora. Falei bem alto: "pois eu quero ele aqui dentro agora!". Depois vi que fui grosseira. Ou não. Era meu direito ter meu marido comigo. E ele veio. Se não fosse o braço dele me dando força, não sei se eu teria conseguido. Não só a força psicológica, mas a força física mesmo. Eu estava numa cama estreitíssima sem nenhuma alça para me apoiar e fazer força. Puxei tão forte o braço do meu marido que ele quase caiu em cima de mim. Puxei, arranhei, mordi... Eu realmente estava me comportando de forma animalesca. Entre uma contração e outra, consegui obedecer aos pedidos do anestesista e das enfermeiras para me posicionar melhor, de barriga para cima e com as pernas nas perneiras. Eles foram pacientes e esperaram eu me posicionar lentamente. Em nenhum momento fui contida ou amarrada como, infelizmente, acontece com muitas mulheres. Ouvi uma parteira ou enfermeira dizer para o anestesista que ele precisaria romper a bolsa. Ele novamente coçou a cabeça. Certamente fazia anos que ele não realizava um parto. Imagino o que deve ter se passado na cabeça dele: sou um anestesista e estou aqui fazendo o parto de uma paciente com hérnia discal. Ele olhou para um lado, olhou para o outro e disse: "é, vamos lá, vamos ter que fazer". Esperou a próxima contração e rompeu minha bolsa. O anestesista ficou banhado de líquido amniótico. A dor da contração virou fichinha perto da dor que senti nesse momento. Gritei alto. Tão alto que acho que toda a maternidade ouviu. Quando a dor passou, uma enfermeira veio até meu lado direito, bem perto do meu rosto e disse: "você precisa nos ajudar. Coloca o queixo no peito e faz força pra baixo. Seu bebê vai nascer". Eu ainda tentei ficar na posição que ela pediu, mas a hérnia não deixou. Segundos depois, uma contração violenta. Agarrei o braço do meu marido. E então eu fiz a maior força que fui capaz. Berrei: "Vem, Alice, veeeeem!" De repente, um alívio. Senti todas as minhas entranhas escorregando por entre as minhas pernas. Me calei e só ouvi o silêncio. A dor foi embora como um milagre. E então eu ouvi o som mais lindo de todo o universo: o choro da minha filha. A minha menina estava ali, em cima do meu peito, com os bracinhos abertos como se quisesse me abraçar. Logo ela parou de chorar. Ela estava quentinha e tinha a pele delicada. Analisei cada pedacinho dela, senti um cheirinho bom... Ficamos assim por um tempo que não sei mensurar. Parecia um milagre. Não havia mais dor, não havia mais medo. Eu tinha conseguido. Eu havia parido minha filha, minha caçula, na raça, no grito, sem anestesia. Foi o nosso parto, natural, sem intervenções, sem coadjuvantes. Fomos as protagonistas desse momento tão sublime. Deus me permitiu esse milagre.




"E aí você surgiu na minha frente
E eu vi o espaço e o tempo em suspensão
Senti no ar a força diferente
De um momento eterno desde então..."