quarta-feira, 29 de abril de 2015

Maratona de uma mãe noiada

ma·ra·to·na |ô| 
(Maratona, .topônimo [aldeira grega a cerca de 42 km de Atenas])

substantivo feminino

1. [Esporte]  Corrida pedestre de grande fundo (42,195 km em estrada).

2. Conjunto de negociações longas e difíceis, debates laboriosos.

3. Atividade muito prolongada.


"maratona", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/maratona[consultado em 29-04-2015]

Não, amigos. Maratona de verdade é quando você adoece, sua filha mais velha adoece e você precisa evitar que sua filha mais nova, ainda recém-nascida, adoeça também. Isso, sim, é uma verdadeira maratona. É preciso se virar nos 30 bonito. Talvez eu seja um pouco noiada. Talvez, não. Certeza. Aliás, acho que toda mãe tem seu calcanhar de Aquiles, né? Que atire a primeira mamadeira aquela mãe totalmente desencanada que nunca teve uma preocupação sequer com o filho. Duvido que exista. Nóia, neura, preocupação, frescura, excesso de zelo... O nome não importa. O que importa mesmo é aprender a conviver com aquilo que te aflige. Aqui, o que mais me aflige são as doenças infantis. E olha que me considero uma mãe abençoada porque, para os meus parâmetros, minha filha não adoece muito (falo no singular porque, graças a Deus, minha caçula ainda não adoeceu). Às vezes me acho até injusta. Vejo tantos casos de mães que carregam cruzes pesadíssimas, com filhos sofrendo com doenças graves, e eu aqui me lamentando de uma tossezinha ou uma febre passageira. Mas é como eu disse: cada qual com sua neura. E olhem que hoje estou 80% mais tranquila do que há um ano. Até bem pouco tempo, era comum eu perder 1 ou 2 kg quando minha filha adoecia. Simplesmente porque eu perdia completamente o apetite. Não adianta, não sinto fome, nada desce e só volto a comer quando ela está bem. Outro dia, eu estava jantando e meu marido me pediu o termômetro. Pronto, meu estômago já embrulhou. Mesmo ele tendo medido a temperatura e verificado que nossa filha não estava com febre, não consegui voltar a comer. Joguei o jantar no lixo e fui deitar. Hoje isso não acontece. Não estou curada da minha neurose, não, mas me considero quase normal. Risos... Acho que minha segunda filha reprogramou meu cérebro. Bem que me disseram que segundo filho liberta. E liberta mesmo. Bom, mas esse é um assunto que dá pano pra mang... Ops, que dá um novo post. Vamos voltar ao foco da conversa: a maratona.

 

Há cerca de 7 semanas, minha filha mais velha adoeceu. E eu, como boa mãe neurótica que sou, quis evitar ao máximo que minha filha mais nova também adoecesse. Se hoje ela ainda é recém nascida, imaginem 6 ou 7 semanas atrás. E embora minha filha mais velha tivesse 2 anos e meio nessa época, ela ainda dependia (aliás, ainda depende) muito de mim. Imagina então doentinha, né? Pra falar a verdade, chá de mamãe faz bem para filhos de 2 a 200 anos de idade, não é mesmo? Então, houve momentos em que papai não servia. Era só mamãe na causa. E lá ia a mamãe aqui dar colo, dengo, abraço, beijo, remédio... Até o momento em que a filha mais nova chorava com fome. Outro momento que papai também não serve, né? Então começava a maratona. Mamãe corre pro banheiro, tira toda a roupa (sutiã, principalmente, porque vai que a tosse da filha mais velha respingou no sutiã, perto de onde a filha mais nova vai mamar...), se lava, se enxuga, veste uma roupa limpa, passa álcool gel... E pega a mais nova pra amamentar. Enquanto isso, papai segura as pontas com a filha mais velha (nem sempre ela aceitava e mamãe segurava a menor com um braço e a maior, de costas pra menor (vai que ela tosse, né?), com o outro braço. A mais nova mamava, arrotava, ficava uns minutinhos com a mamãe (afinal, ela é recém nascida e tem direito também à mamãe dela). Depois o papai assumia e mamãe voltava pra filha mais velha. Mais carinho, mais denguinho, mais febre monitorada, mais corrida pro banheiro para limpar os vômitos... E a filha mais nova chama mais uma vez. Mamãe corre de novo pro banheiro, se lava, se troca, passa álcool gel... E esse loop infinito durou uns 6 ou 7 dias. No final da semana eu já estava quase desfilando de calcinha e sutiã pela casa. Risos... Ok, to exagerando. Mas eu trocava tanto de roupa (umas 8 vezes por dia) que o cesto já estava cheio. O importante mesmo é que a mais nova não pegou a bronquite da mais velha. Ufa, escapamos! Se bronquite já maltrata uma criança de 2 anos e meio, imagina o estrago que faz num bebezinho de um mês de vida. Não gosto nem de pensar.

 

Aí, recentemente (mais precisamente, essa semana), a corrida com obstáculos recomeça. Com uma novidade: mamãe também ficou doente. Na verdade, minha filha mais velha caiu primeiro, com uma febre não muito alta. Algumas horas depois, novo episódio de febre. Nada muito preocupante, nada de perder o apetite nem ficar indisposta. Mas, claro, eu fiquei apreensiva. E pedi a Deus que transferisse para mim o que ela tinha. Eu sempre peço isso: que Deus lance para mim o que tiver que atingir minhas filhas. E pode arrochar o nó, aumentar a intensidade do problema em várias ordens de grandeza. O importante é livrá-las de qualquer mal. Não sei se Deus ouviu minhas preces. Só sei que no outro dia, minha filha mais velha amanheceu bem melhor e eu, doente. Claro que a razão explica isso facilmente: eu peguei a virose dela. Simples assim. Mas enfim... Graças a Deus, foi uma virose leve que durou pouco tempo. Mas a maratona foi bem parecida. Era só a filha mais nova chamar que lá ia eu correndo pro banheiro, me lavar, secar, trocar de roupa, colocar máscara no rosto e passar álcool gel nas mãos, braços e antebraços. Antes de deitar, eu já deixava uma camisola limpa, máscara e álcool gel já separadinhos. Na minha cabeça de mãe noiada, provavelmente tinha algum vírus na minha roupa de dormir (eu só tirava a máscara para dormir e tomar banho. Uma vez, há quase 2 anos, inventei de dormir de máscara e acordei com muita dor de cabeça, talvez por não ter respirado direito. Desde então não faço mais isso). Aí eu trocava tudo e ia amamentar. E claro que esse processo era feito em 20-30 segundos, especialmente de madrugada. Eu não ia correr o risco de deixar a pequena chorando muito tempo a ponto de acordar a irmã, né? Olha, se tivesse essa modalidade nas Olimpíadas do Rio em 2016 eu seria forte candidata à medalha de ouro, viu? Porque o treinamento aqui foi intensivão. Risos...

 

Tenho certeza que muita gente vai achar exagero tudo isso que descrevi. Ok, cada um tem o direito de pensar o que quiser. Da mesma forma, eu tenho o direito de agir como acho que é o melhor para mim e para minha família. Sei bem que não é possível nem saudável criar um filho dentro de uma redoma. E quem conhece minha filha mais velha sabe que ela não vive numa bolha. Ela rola no chão, coloca as mãos no prato para pegar um pedaço maior de carne, pisa na areia, coloca a mão na água quente que sai da torneira da casa da avó (e minha sogra sempre tem um mini enfarte e jura de pé junto que ‘essa menina vai adoecer pegando nessa água quente’), bebe água da chuva com asa de mosquito empoçada na varanda (eca, eca e mil vezes eca!)... Sei que ter contato com tudo isso, de maneira prudente, faz bem. Mas eu realmente fico muito triste e preocupada quando vejo minha filha mais velha abatida. E tudo que eu puder fazer para evitar que elas adoeçam, eu farei. Minha filha mais velha tem, atualmente, 2 anos e 8 meses e jamais pegou nada de mim. Já eu, eventualmente, pego resfriado ou virose dela. E assim vamos levando, de máscara em máscara, de álcool gel em álcool gel. Quem sabe lá pelo décimo filho eu me curo de vez e passe a limpar o catarro de um com a fralda do outro, né?


Nosso baile de máscaras.