Sobre o fim da fase oral: bye bye chupeta e mamadeira.
Sei que chupeta é sempre um assunto polêmico: tem quem
condene, tem que defenda. Tem quem não se importe em ver o filho andar com
chupeta pendurada na boca até 5, 6, 7 anos de idade. Tem que prefira que o bebê
chupe o dedo. Tem quem faz peito de chupeta. O mundo é diverso e eu respeito a decisão de cada mãe. O que vou
falar aqui é o que EU penso. Pus EU em letras maiúsculas e destacado para frisar bem que o
que vou dizer aqui não é verdade absoluta e nem a única maneira correta de se
pensar. Aliás, nem sei se é a maneira correta. Mas é como penso e ajo. Não
estou ditanto regra nem julgando quem faz diferente. Mas, vamos lá, foco na
chupeta. Ou na ausência dela.
A medicina já sabe que uma das fases da primeira infância é a fase oral. Todo bebê vai vivê-la. Isso quer dizer que
eles necessitam descobrir o mundo pela boca. Se a gente reparar, eles
amadurecem de cima pra baixo. A primeira coisa na vida que dominam é a
boquinha. Ao nascer, a única coisa que os bebês sabem é sugar. Depois de um
tempo, passam a sustentar pescoço. Depois conseguem ter alguma coordenação com
as mãozinhas. Em seguida, dominam o tronco e se mantêm sentados por algum tempo.
Depois conseguem algum domínio de pernas e engatinham. Só depois de tudo
conseguem domínio para caminhar. E durante todo esse amadurecimento eles vivem a fase oral.
Ao entrar no consultório do pediatra mês passado, na consulta de rotina dos 2 anos, ele (que me conhece desde que nasci, pois foi meu pediatra) fez os elogios de costume, se derreteu como sempre e disse: quer dizer que essa moça fez 2 anos ontem? E eu respondi: pois é, dr. X, deixou de ser bebê e passou a ser criança. E ele completou: essa era exatamente a frase que eu queria ouvir. Porque tem muita mãe que não entende e não aceita que existem as transições e a criança precisa amadurecer. E acaba dificultando tudo. Muitas vezes, a criança está pronta para seguir adiante, mas os pais, consciente ou inconscientemente, não querem que o filho cresça.
Tivemos uma conversa muito importante e esclarecedora sobre a chupeta e o fim da fase oral. A fase oral, como falei, deve ser vivida e respeitada. Mas como todas as fases da vida, ela tem um fim. E esse fim acontece em torno de 1 ano e 9 meses. Então percebi que minha filha largou a chupeta por conta própria um mês antes dessa idade. Ou seja, ela já estava sinalizando que estava pronta para deixar para trás essa etapa. Após essa idade (em torno de 1 ano e 9 meses), a criança não tem necessidade de sucção nem de descobrir o mundo pela boca. Claro que não é algo cronometrado: fez 1 ano e 9 meses e precisa imediatamente largar a chupeta. Não é assim, afinal não estamos falando de um cálculo matemático, exato. Por isso é que se dá uma “tolerância” de 3 meses, até a criança fazer 2 anos de idade. Conheço crianças que largam a chupeta, por conta própria, bem antes dos 2 anos. Segundo o pediatra (e segundo o que eu penso também), prolongar essa fase oral traz prejuízos para a criança. E o menor deles é a arcada dentária. Arcada se corrige com aparelho. Hoje em dia é a coisa mais fácil do mundo. O que é difícil corrigir mesmo é o prejuízo psicológico que a chupeta PODE trazer. Novamente usei letras maiúsculas para destacar o “pode”. O que vou falar aqui não é uma sentença, uma verdade exata. É uma possibilidade. Pode acontecer, pode não acontecer. Mas se tem chance de acontecer, eu evito. Não pago pra ver, ainda mais quando a “moeda” em questão é minha filha. Jamais. Se tem chance de dar errado, eu não arrisco. Então, o pediatra me mostrou um série de estudos que mostram estreita relação entre uso prolongado de chupeta e adultos inseguros e problemáticos. Ele disse que quanto mais se prolonga o uso da chupeta além dos 2 anos, maior é a probabilidade de se ter um adulto inseguro no futuro. Conversei com a psicóloga da escola da minha filha e procurei algumas referências sobre o assunto que reforçaram o que o pediatra disse. Aos 2 anos (na verdade, até antes disso) a criança não tem nenhuma, absolutamente nenhuma necessidade de sucção, portanto não tem necessidade de usar chupeta nem mamadeira. Prolongar a fase oral é como nadar contra a correnteza e querer lutar contra o amadurecimento natural da criança, que precisa aprender a se acalmar (caso a chupeta seja usada para esse fim) de outras formas. Cabe aos pais guiar os filhos na busca dessa nova forma de “consolo” para as frustrações da vidinha da criança. Dá trabalho? Lógico que dá. Existe alguma fase da vida de um filho em que mães e pais não tenham trabalho? Se tem, eu desconheço. Mas é preciso enfrentar. É mais fácil mesmo deixar a criança usar a chupeta por 3, 4, 5 anos e esperar que ela, por si só, queira deixar a chupeta de lado. Mas, na minha opinião, da mesma forma que um pai não permite que seu filho coma comida do chão porque faz mal, não deve deixar que a criança viva a fase oral tardia. Ou por acaso você espera que seu filho tenha compreensão de que o chão é sujo e até lá ele vai comer comida do chão? Claro que não. Você orienta porque sabe que isso é o certo. Por que não fazer o mesmo com a chupeta? Conheço pessoas que até começam o processo de retirada da chupeta, mas depois cedem aos apelos da criança. O pequeno chora, esperneia, os pais cedem e entregam a plasticuda calmante. A criança, claro, se acalma. No dia seguinte, tudo outra vez: chupeta desaparece, escândalo, chupeta renasce das cinzas. Imagina a confusão na cabeça dessa criança. Isso, sim, é traumático. Não seria mais fácil sentar e conversar com a criança, explicar que ela não precisa mais da chupeta? Ela pode até chorar um momento. É natural, né? Mas ela vai compreender. Os adultos, às vezes, subestimam a capacidade de entendimento dos pequenos.
Crianças com desenvolvimento cognitivo dentro do padrão, que nasceram a termo e que não tem deficiências psicológicas são, sim, capazes de compreender. O processo de “deschupetamento” é, às vezes, mais difícil para os pais do que para os filhos.
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